Nos últimos dias, um vídeo do criador de conteúdo Felca viralizou ao abordar um tema que deveria estar no centro das nossas preocupações sociais: a adultização. O termo, ainda pouco explorado nos debates públicos, revela um fenômeno perverso — a imposição de padrões, responsabilidades e sexualizações precoces a crianças e adolescentes, sobretudo do sexo feminino.
Esse processo rouba a infância e coloca essas crianças em situação de extrema vulnerabilidade, conectando-se a duas grandes dimensões da nossa vida em sociedade: a violação dos direitos sexuais e reprodutivos e a insuficiência das políticas de proteção integral garantidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A adultização não é um detalhe cultural inofensivo. Ela se manifesta em músicas, propagandas, redes sociais e até mesmo em práticas familiares, naturalizando a ideia de que meninas podem — ou devem — assumir comportamentos e papéis de mulheres adultas. Esse processo abre espaço para violências gravíssimas: exploração sexual, gravidez precoce e responsabilização das vítimas por abusos sofridos.
Quando uma menina é vítima de violência sexual e se vê obrigada a levar adiante uma gestação indesejada, estamos diante da face mais cruel da negação de direitos. O Brasil, que ainda criminaliza o aborto em quase todos os casos, fecha os olhos para a realidade de meninas que tiveram sua infância interrompida. Ao negar autonomia sobre o corpo das mulheres, o Estado reforça um ciclo de violências que deveria combater.
O ECA é bem claro: crianças e adolescentes são sujeitos de direitos e devem receber prioridade absoluta nas políticas públicas. No entanto, a adultização mostra o quanto esse princípio é ignorado. A ausência de políticas robustas de educação sexual, de acolhimento às vítimas de violência e de fortalecimento da rede de proteção permite que meninas sigam sendo tratadas como adultas antes da hora — e, pior, responsabilizadas por situações que deveriam mobilizar proteção e cuidado.
Enfrentar a adultização exige ação em várias frentes: políticas públicas robustas, atuação da sociedade civil e dos movimentos feministas, além do papel estratégico da comunicação.
É justamente para aprofundar esse debate que o próximo episódio do PLP Videocast terá como tema “Adultização e direitos reprodutivos: quando a infância é roubada”. Receberei Natasha Avital, feminista e membro das Frentes pela Legalização do Aborto da Baixada Santista e do Estado de São Paulo, e Flavia Rios, advogada especializada em direito da criança e do adolescente.
🗓 Data: 27 de agosto de 2025
🕢 Hora: 19h30
📍 Ao vivo no YouTube @PLPCUBATAO
A adultização é a negação da infância. Se queremos um futuro mais justo, precisamos proteger nossas crianças hoje — garantindo que tenham infância plena e, quando adultas, possam decidir sobre seus corpos com liberdade e dignidade.