Dados foram apresentados pelo Ministério Público de SP com base em levantamento contratado pela Prefeitura de Cubatão. A informação foi divulgada em entrevista da promotora Flávia Gonçalves no canal do MPSP.
A publicação do jornal A Tribuna nesta terça-feira (13), com base em declarações do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), gerou revolta entre moradores da Vila Esperança, em Cubatão. A reportagem destaca que 40% dos barracos da comunidade teriam alguma ligação com o crime organizado, conforme afirmou a promotora de Justiça Flávia Maria Gonçalves, em entrevista ao canal oficial do MPSP no YouTube.
A promotora explicou que o dado surgiu a partir de um levantamento socioeconômico realizado por uma empresa contratada pela Prefeitura de Cubatão. O estudo cruzou informações públicas, como registros escolares, dados de saúde e cadastros sociais, para identificar moradias supostamente ocupadas por pessoas sem vínculo real com o bairro.
A repercussão foi imediata e negativa. Muitos moradores da Vila Esperança se manifestaram nas redes sociais e em grupos comunitários, afirmando que a informação é equivocada e generaliza uma população majoritariamente composta por pessoas honestas e trabalhadoras.
“É revoltante ver nosso bairro ser tratado dessa forma. Aqui tem pais de família, donas de casa, gente que trabalha duro todos os dias. Essa estatística não representa a nossa realidade”, desabafou Adriana Silva, moradora há mais de 15 anos.
Já para o morador e líder comunitário Marcos Lima, a divulgação do dado sem transparência nos critérios utilizados prejudica a imagem da comunidade. “Esse levantamento nunca foi discutido com a população. Como podem afirmar algo tão grave sem ouvir os moradores? Estão criminalizando a Vila Esperança para justificar remoções.”
Atualmente, o bairro abriga cerca de 9 mil moradias e é considerado a maior ocupação urbana de Cubatão. A Prefeitura anunciou que pretende remover 1.757 dessas moradias, iniciando a entrega de apartamentos populares ainda este ano, como parte do projeto de reurbanização da área.
Apesar dos problemas históricos de infraestrutura e segurança enfrentados pelo bairro, os moradores reforçam que a generalização é injusta e perigosa. “Não negamos que existam problemas, como em qualquer lugar. Mas dizer que quase metade do bairro é do crime é um ataque a todos nós que vivemos aqui com dignidade”, completou Marcos.
A comunidade cobra retratação e maior diálogo com o poder público para garantir que ações de urbanização respeitem os direitos das famílias que vivem na Vila Esperança há décadas.